É o caso de Agatha (nome fictício), de 25 anos. A jovem frequenta as aulas desde o início, mas falta quando congestionamento não deixa que ela chegue a tempo. Nascida em Piracicaba (SP), a estudante tem na pronúncia sua principal dificuldade. Durante a aula, o professor Igor Fusch comentou sobre a insistência dela em colocar o dáblio "antes de tudo".
O método do professor é a repetição. Fusch, de 53 anos, morou por quase 20 anos na Austrália e retornou ao Brasil há quatro. "Agora que está no começo, eu quero enfatizar os greetings, que é o conhecer a pessoa", disse sobre um dos tópicos da aula. Para ele, um desafio é se acostumar ao modo norte-americano e inglês de iniciar uma conversa, pois tendem a manter certa formalidade.
A cada encontro, o professor ensina frases novas, e as estudantes devem repeti-las. Em seguida, elas devem direcionar a questão a Fusch, que responde para ensinar como se fala. Logo, elas também precisam responder às perguntas. Os erros resultam em inúmeras risadas. Muitas meninas são do interior e tem no sotaque uma grande dificuldade.
Outro problema é que muitas alunas não têm escolaridade completa. Por isso, algumas lições precisam ser repetidas, respeitando o tempo de aprendizado de cada uma das mulheres. "Sempre faltam umas duas ou três. Então, quando elas vêm eu repito, aí as outras guardam", disse o professor.
Elmo Lincoln, professor de inglês há cinco anos, tem um método diferente de ensino. Ele prepara lições para entregar aos alunos e explica como usar os verbos e formar frases no idioma. Lincoln também se queixa da ausência de alguns alunos. Na aula desta terça-feira (16), apenas três participaram.
Mas se comparecem às aulas, a vontade de aprender impressiona. Para as prostitutas, as short answers (respostas curtas, em português) ensinadas por Fusch não são suficientes. Quando o professor questiona se as mães delas vivem em Belo Horizonte, o 'Yes, she does' e 'No, she doesn’t ' é pouco. As alunas que perderam as mães, por exemplo, querem saber como se fala ‘céu’ em inglês ou como mencionar São Pedro no idioma. Outras começam a falar da cidade de origem das famílias.
Uma simples pergunta pode desencadear a revelação de histórias pessoais, como quantos filhos elas têm, as músicas e comidas favoritas, e a hora na qual costumam acordar. O professor ressalta que as profissionais do sexo precisam aprender detalhes relacionados ao trabalho para entreter os clientes e prevenir qualquer mal-estar. Outro conhecimento importante é quanto aos preços dos programas.
Agatha espera ganhar mais com a chegada dos estrangeiros. Ela afirma amar os cursos de inglês e espanhol. Mas nega aprender os idiomas apenas para agradar os frequentadores da Rua Guaicurus – ponto onde está a maioria dos hotéis nos quais os serviços ocorrem – e sim para ter mais conhecimento. "Quero aprender para mim, não para os clientes", afirmou.
Para a profissional do sexo, a intenção é aprender várias expressões para que a conversa possa fluir melhor. Ela e outras prostitutas contam que os clientes são curiosos e exigem atenção. "Eles perguntam tanta coisa", contou Agatha.
Extrovertida, Laura do Espírito Santo conta que tem uma filha que estuda em Portugal; está fazendo doutorado. Perguntada se foi difícil se tornar uma prostituta, ela não hesita: "No princípio, eu me senti constrangida. Mas depois que solta a franga, é difícil pegar [a franga]", disse aos risos. Sobre a rotina de programas, repetida há anos, diz que o importante é não ter o nome sujo, não abusar do álcool e não usar drogas. Para ela, o que faz é um trabalho como qualquer outro. "Eu entro no hotel de cabeça erguida e saio de cabeça de erguida", disse.
Ainda há vagas
De acordo com a Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), 800 garotas e garotos de programa trabalham no Centro de Belo Horizonte, principalmente em hotéis da Rua Guaicurus.
O projeto é apoiado pelo dono de um shopping popular na reguião, que empresta as salas. A ideia do curso surgiu para elevar a autoestima das garotas de programas e melhorar o contato delas com os estrangeiros.
Após uma entrevista em que dirigentes comentaram sobre o projeto, apareceram muitos professores voluntários. Atualmente, são 12, segundo a associação. As alunas não pagam nada.
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